John Dewey: O Pensador que Transformou a Educação e Ainda Pode Nos Ensinar Muito

Quem foi John Dewey?

Falar de John Dewey é mergulhar em uma história que ultrapassa os limites do tempo. Filósofo, psicólogo e educador norte-americano, nascido em 1859, Dewey é considerado um dos maiores nomes do movimento conhecido como Escola Nova, que rompeu com os modelos tradicionais de ensino centrados apenas na transmissão de conteúdos. Ele não foi apenas um intelectual distante da realidade: sua vida acadêmica se conectava profundamente com o cotidiano escolar, defendendo uma educação que dialogasse com a vida real.

Em um período marcado por grandes transformações sociais, políticas e tecnológicas nos Estados Unidos, Dewey entendeu que a escola não poderia permanecer fechada em si mesma, como uma instituição que apenas despeja conhecimento pronto. Para ele, a escola deveria ser uma extensão da vida em comunidade, um espaço de experimentação e crescimento humano. Sua influência atravessou fronteiras, chegando a diversos países, inclusive o Brasil, onde suas ideias ainda ecoam nos debates sobre educação.

Mais do que um teórico, Dewey foi um pensador que viveu intensamente a busca por uma educação democrática, capaz de formar cidadãos críticos, participativos e conscientes do papel que desempenham no mundo. Em um tempo em que ainda discutimos desigualdades e metodologias engessadas, revisitá-lo é quase um ato de resistência.


Conceitos Fundamentais

O legado de John Dewey pode ser compreendido a partir de alguns conceitos-chave que estruturam sua visão sobre educação:

  1. Aprender fazendo (learning by doing): Para Dewey, o aprendizado não deveria ser passivo. A criança aprende melhor quando age, quando participa ativamente da construção do conhecimento. A simples repetição mecânica de conteúdos era vista por ele como estéril e incapaz de despertar interesse genuíno.

  2. Educação democrática: Dewey acreditava que a escola deveria ser um espaço de democracia, onde os estudantes pudessem experimentar, debater, tomar decisões e compreender na prática o que significa viver em comunidade. Para ele, a democracia não era apenas um regime político, mas um estilo de vida.

  3. Escola como comunidade: Diferente de uma instituição que separa alunos de sua realidade, Dewey defendia que a escola deveria estar conectada à vida prática. Ou seja, a educação deveria preparar para viver, trabalhar e colaborar, não apenas para passar em exames.

  4. Professor como mediador: Em vez de ser o detentor absoluto do saber, o professor assume o papel de guia, orientador e facilitador. Isso não significa ausência de autoridade, mas sim o exercício de uma autoridade que valoriza a autonomia dos estudantes.

  5. Currículo integrado: Dewey questionava a fragmentação do conhecimento em disciplinas rígidas e defendia uma abordagem integrada, capaz de articular ciência, arte, filosofia e experiência prática.

Esses conceitos continuam atuais. Basta observar os debates contemporâneos sobre metodologias ativas, ensino por projetos e aprendizagem baseada em problemas: todos guardam um eco profundo das ideias de Dewey.


Aplicações Práticas

Na prática, como as ideias de Dewey podem ser aplicadas? Vamos a alguns exemplos que mostram sua atualidade:

  1. Aprendizagem por projetos: Imagine uma turma que precisa entender os impactos ambientais do consumo de plástico. Em vez de ler apenas textos prontos, os alunos podem investigar dados, entrevistar moradores, criar campanhas de conscientização e propor soluções locais. Essa experiência dá sentido ao aprendizado, pois conecta teoria e prática.

  2. Assembleias escolares: Inspiradas no ideal democrático de Dewey, muitas escolas realizam assembleias onde os estudantes discutem regras, organizam eventos e tomam decisões coletivas. Esse exercício ajuda a formar cidadãos que sabem dialogar e respeitar a diversidade de opiniões.

  3. Laboratórios de experimentação: Dewey acreditava que a ciência deveria ser aprendida pela experiência. Assim, laboratórios, oficinas e atividades práticas se tornam fundamentais. Ao construir um protótipo, realizar uma experiência química ou desenvolver um aplicativo, o aluno aprende de forma viva.

  4. Interdisciplinaridade: Projetos que unem Matemática, História e Geografia para compreender o crescimento urbano, por exemplo, dialogam diretamente com o pensamento de Dewey, que valorizava a integração entre os campos do saber.

  5. Professor como orientador: Em vez de simplesmente ditar conteúdos, o professor organiza desafios, provoca questões e acompanha os estudantes em suas descobertas. Esse papel exige escuta ativa e planejamento criativo.

Em todas essas práticas, vemos a tentativa de superar a velha lógica de sala de aula centrada no professor e no conteúdo isolado, buscando uma educação que faça sentido na vida real dos alunos.


Inovação Educativa

Dewey pode ser considerado um dos pais da inovação educacional. Sua ousadia consistiu em romper com uma tradição de séculos e afirmar que a criança não é um recipiente vazio a ser preenchido, mas um sujeito ativo que aprende com o mundo.

O que hoje chamamos de metodologias ativas nada mais é do que a atualização de seu pensamento. A ideia de colocar o estudante no centro do processo, de estimular a participação, a resolução de problemas reais e o protagonismo do aprendiz, tudo isso se deve, em grande parte, à influência de Dewey.

Outro ponto inovador foi a defesa de uma educação conectada à vida comunitária. A escola, para ele, não poderia ser uma torre de marfim. Essa visão é extremamente atual em tempos de globalização e crises sociais, em que a educação precisa dialogar com temas como sustentabilidade, tecnologia, desigualdade e cidadania digital.

Além disso, Dewey foi inovador ao defender que a escola não deveria preparar apenas para o futuro, mas para o presente. A vida do estudante já é aqui e agora. Esse pensamento rompe com a ideia de que a educação é apenas um investimento distante. Ela é, sobretudo, experiência imediata.


Como é aplicado no Brasil?

O Brasil conheceu as ideias de John Dewey especialmente a partir do movimento da Escola Nova, no início do século XX. Intelectuais como Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo e Lourenço Filho beberam diretamente de suas obras e buscaram implantar uma educação democrática e ativa no país.

Anísio Teixeira, em particular, foi um dos grandes difusores de Dewey no Brasil. Estudou com ele nos Estados Unidos e trouxe suas ideias para projetos educacionais que influenciaram profundamente a educação pública brasileira. A proposta de escola integral, que une conhecimento, arte, cultura e práticas sociais, tem muito de Dewey.

Hoje, ainda que de forma desigual, vemos práticas inspiradas em seu pensamento em várias frentes:

  1. Escolas públicas e privadas que adotam projetos interdisciplinares e metodologias ativas.
  2. Educação integral em tempo expandido, que busca formar o aluno em todas as dimensões, não apenas a cognitiva.
  3. Programas de protagonismo juvenil, em que estudantes participam de decisões e desenvolvem iniciativas sociais.
  4. Uso de tecnologias educacionais que permitem ao aluno experimentar, criar e compartilhar saberes, fugindo da simples repetição.

No entanto, é preciso reconhecer que a realidade brasileira ainda enfrenta barreiras profundas. Muitas escolas ainda operam em modelos tradicionais, centrados na memorização e no professor como figura central. A falta de infraestrutura, a precarização da carreira docente e as desigualdades sociais tornam mais difícil a implementação plena do pensamento de Dewey.

Mesmo assim, cada vez que um professor estimula seus alunos a investigar, criar e participar, há um pouco de Dewey presente em nossa prática cotidiana.


Conclusão: Dewey ainda tem muito a nos dizer

Escrever sobre John Dewey é um convite à reflexão. Sua filosofia não se limita a livros empoeirados nas estantes universitárias. Ela pulsa em cada tentativa de tornar a escola mais humana, mais democrática e mais conectada à vida.

Em tempos de pressões por resultados imediatos, de escolas que ainda insistem em padronizar alunos e sufocar a criatividade, lembrar de Dewey é quase um ato de coragem. Ele nos ensina que educar não é apenas transmitir conhecimento, mas criar condições para que cada pessoa descubra seu lugar no mundo, aprenda a pensar criticamente e participe de forma ativa na construção da sociedade.

No Brasil, sua influência é inegável. Mesmo diante das dificuldades, suas ideias seguem inspirando professores que acreditam que a sala de aula pode ser um espaço de vida, de diálogo e de transformação social.

Mais de um século depois, John Dewey continua atual. Afinal, como ele mesmo defendia, a escola não é um preparo para a vida. A escola é a própria vida em movimento.



Eduardo Fernando

Prof. Eduardo Fernando é Mestre em Educação pela Must University, especialista em Metodologias de Ensino Superior e Educação a Distância. Possui formação em Geografia pela Universidade Norte Do Paraná e Pedagogia pela Universidade Católica de Brasília.

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