Por Que a Terra e os Outros Planetas São Redondos?

A Curiosidade Que Move a Ciência 

Desde os primórdios da humanidade, o céu noturno fascina e intriga. Os antigos gregos já observavam que os planetas, diferentemente das estrelas cintilantes, possuíam um brilho fixo e um movimento peculiar. Mas foi só com o avanço da astronomia que descobrimos uma característica fundamental desses corpos celestes: sua forma arredondada. 

Por que, afinal, planetas como a Terra, Marte ou Júpiter não são achatados, triangulares ou completamente irregulares como asteroides? A resposta está em um dos princípios mais básicos da física: a gravidade. 

Então exploraremos não apenas o "como", mas também o "porquê" por trás da forma esférica dos planetas, mergulhando em conceitos como equilíbrio hidrostático, formação planetária e as exceções que desafiam a regra. 

A Gravidade: A Escultora dos Planetas

O Poder Invisível Que Dá Forma ao Universo 

A gravidade é a força que atrai toda matéria para um centro comum. Quanto maior a massa de um objeto, mais intensa é sua gravidade. Quando um corpo celeste atinge dimensões significativas (geralmente acima de 500 km de diâmetro), sua própria gravidade começa a moldá-lo em uma forma esférica. 

Mas por que isso acontece? 

Imagine uma montanha gigantesca em um planeta em formação. Se essa montanha for muito alta, a pressão em sua base será tão grande que as rochas derreterão ou se rearranjarão, fazendo com que a estrutura desabe. A gravidade, agindo uniformemente em todas as direções, "nivela" o planeta, eliminando irregularidades extremas. 

O Limite da Esfericidade: Quando um Corpo é Grande o Suficiente?

Nem todo objeto no espaço é redondo. Asteroides como o Bennu ou o Itokawa têm formatos irregulares, parecidos com batatas espaciais. Isso ocorre porque sua gravidade é fraca demais para superar a resistência mecânica do material sólido que os compõe. 

A regra geral é: 

- Corpos pequenos (menos de 500 km de diâmetro): Formato irregular (ex.: asteroides, cometas). 
- Corpos grandes (acima de 500 km): Formato esférico (ex.: planetas, luas como Titã e Ganímedes). 

O Processo de Formação Planetária

Do Pó Cósmico aos Gigantes Gasosos

Os planetas nascem em discos protoplanetários — nuvens de gás e poeira que orbitam estrelas jovens. Pequenos grãos de poeira colidem e se aglutinam, formando objetos cada vez maiores, chamados planetesimais. 

Conforme esses planetesimais crescem, sua gravidade aumenta, atraindo mais material. Em algum momento, a massa se torna grande o suficiente para que a força gravitacional domine, comprimindo o objeto em uma forma esférica. 

Diferenças Entre Planetas Rochosos e Gasosos 

- Planetas rochosos (Terra, Marte, Vênus, Mercúrio): São sólidos, mas ainda assim esféricos devido à gravidade. 
- Planetas gasosos (Júpiter, Saturno): São quase totalmente fluidos, o que facilita a formação esférica. 

Curiosamente, mesmo gigantes gasosos como Júpiter têm núcleos sólidos, mas sua imensa pressão e calor os mantêm em estado fluido. 

Exceções e Curiosidades

Planetas Achatados: O Efeito da Rotação 

Se a gravidade puxa tudo para o centro, por que Júpiter e Saturno não são perfeitamente redondos? A resposta está na rotação rápida. 

A força centrífuga gerada pelo giro do planeta "empurra" a matéria no equador, causando um leve achatamento nos polos. Esse formato é chamado de esferoide oblato. 

- Júpiter: Tem um diâmetro equatorial cerca de 7% maior que o polar. 
- Saturno: Seu achatamento é ainda mais visível devido à sua baixa densidade. 

Haumea: O Planeta-Anão Alongado

Um caso fascinante é o de Haumea, um planeta-anão no Cinturão de Kuiper. Ele gira tão rápido (uma rotação a cada 4 horas) que sua forma se assemelha a uma bola de futebol americano alongada. Isso mostra que, em condições extremas, até mesmo a gravidade pode ser desafiada. 

A Terra é Perfeitamente Redonda? 

O Achatamento Polar Terrestre

Embora pareça uma esfera perfeita, a Terra não é 100% redonda. Seu diâmetro equatorial é cerca de 43 km maior que o diâmetro polar. Isso se deve à sua rotação, que causa um leve inchaço na região do equador. 

Variações na Gravidade: O Geóide 

A forma real da Terra é chamada de geóide — uma superfície irregular que reflete variações na gravidade devido à distribuição desigual de massas (como montanhas e oceanos). Se pudéssemos ver o planeta sem água, ele pareceria mais "batido" do que uma esfera lisa. 

O Que Aconteceria Se a Terra Não Fosse Redonda? 

Gravidade Irregular 

Se a Terra fosse cúbica, por exemplo, a gravidade seria muito mais forte nos vértices e quase nula no centro das faces. Isso tornaria a vida impossível em grande parte do planeta. 

Clima e Marés Caóticos

A forma esférica permite uma distribuição uniforme da luz solar e das marés. Um planeta irregular teria estações extremas e marés imprevisíveis, tornando a sobrevivência um desafio. 

A Beleza da Forma Cósmica 

A esfericidade dos planetas não é acidental — é uma consequência inevitável das leis da física. Desde os primeiros aglomerados de poeira cósmica até os gigantes gasosos, a gravidade trabalha incessantemente, esculpindo mundos em formas harmoniosas. 

E, no fim das contas, é essa mesma força que nos mantém firmes no chão, nos permite observar o céu e sonhar com outros mundos. Afinal, como diria Carl Sagan: 

"Nós somos uma maneira do cosmos se autoconhecer."


Referências Bibliográficas

  

CARROLL, B. W.; OSTLIE, D. A. An Introduction to Modern Astrophysics. 2. ed. San Francisco: Pearson, 2017. 

HAWKING, S. Uma Breve História do Tempo. Tradução de Maria Helena Torres. Rio de Janeiro: Rocco, 1988. 

NASA. Why Are Planets Round? 2020. Disponível em: (https://spaceplace.nasa.gov/planets-round). Acesso em: 20 jul. 2025. 

LISSauer, J. J.; de Pater, I. Fundamental Planetary Science. Cambridge: Cambridge University Press, 2013. 

Eduardo Fernando

Prof. Eduardo Fernando é Mestre em Educação pela Must University, especialista em Metodologias de Ensino Superior e Educação a Distância. Possui formação em Geografia pela Universidade Norte Do Paraná e Pedagogia pela Universidade Católica de Brasília.

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