Evolução das Classificações do Relevo Brasileiro: Uma Análise Comparativa das Propostas de Aroldo de Azevedo, Aziz Ab'Saber, Jurandyr, Sistema Brasileiro de Classificação do Relevo (SBCR)




Resumo


Este artigo analisa a evolução das classificações do relevo brasileiro, destacando as propostas de Aroldo de Azevedo (1949), Aziz Ab'Saber (1960) e Jurandyr Ross (1990).  A pesquisa, de natureza qualitativa e bibliográfica, examina os critérios utilizados por cada autor, como altimetria, processos geomorfológicos e avanços tecnológicos.  Os resultados evidenciam uma progressiva complexidade nas classificações, refletindo o aprimoramento das metodologias e tecnologias disponíveis.  Conclui-se que a compreensão do relevo brasileiro evoluiu significativamente, acompanhando as transformações científicas e tecnológicas.  Destaca-se, nesse contexto, o Sistema Brasileiro de Classificação de Relevo (SBCR), desenvolvido pelo IBGE em parceria com o Serviço Geológico do Brasil (SGB), a União da Geomorfologia Brasileira (UGB) e diversas instituições acadêmicas, visando à padronização e estruturação da classificação do relevo nacional.  Futuras pesquisas devem considerar a integração de novas ferramentas e dados, bem como a necessidade de revisões periódicas das classificações existentes, para garantir uma representação precisa e atualizada do relevo brasileiro. 

Palavras-chave: Relevo brasileiro, Classificação geomorfológica, Geografia física, Sistema Brasileiro de Classificação de Relevo (SBCR). 


1. Introdução


A compreensão do relevo brasileiro tem sido objeto de estudo de diversos geógrafos ao longo do século XX e início do XXI.  Cada proposta de classificação reflete o contexto científico e tecnológico de sua época, bem como os critérios metodológicos adotados pelos pesquisadores.  Este artigo propõe uma análise comparativa das classificações do relevo brasileiro propostas por Aroldo de Azevedo, Aziz Ab'Saber e Jurandyr Ross, destacando suas contribuições e limitações.  Além disso, considera-se a recente iniciativa do Sistema Brasileiro de Classificação de Relevo (SBCR), que visa estabelecer uma taxonomia única para o relevo nacional, promovendo uma linguagem comum e padronizada para sua representação. 


2. Metodologia


A pesquisa é de natureza qualitativa, com abordagem bibliográfica.  Foram analisadas as principais obras e publicações dos autores em questão, bem como estudos secundários que discutem suas propostas.  A análise comparativa considerou os critérios de classificação, as unidades de relevo identificadas e as inovações metodológicas introduzidas por cada autor.  Adicionalmente, foram examinados os documentos e relatórios relacionados ao desenvolvimento do SBCR, incluindo os registros dos workshops e excursões técnicas promovidos pelo IBGE e seus parceiros, que visam à construção e divulgação desse sistema taxonômico nacional. 


3.1. Classificação de Aroldo de Azevedo (1949)




A primeira classificação sistemática do relevo brasileiro foi proposta por Aroldo de Azevedo em 1949. Utilizando a altimetria como critério principal, Azevedo dividiu o território nacional em planaltos (altitudes superiores a 200 metros) e planícies (altitudes inferiores a 200 metros). Essa abordagem simplificada refletia as limitações tecnológicas da época e a necessidade de uma sistematização inicial do relevo nacional. 

Azevedo identificou oito unidades de relevo: quatro planaltos (das Guianas, Central, Atlântico e Meridional) e quatro planícies (Amazônica, Costeira, do Pantanal e dos Pampas). Embora pioneira, sua classificação foi criticada por desconsiderar os processos geomorfológicos e a diversidade morfoclimática do país. 


3.2. Classificação de Aziz Ab'Saber (1960)




Na década de 1960, Aziz Ab'Saber propôs uma nova classificação do relevo brasileiro, baseada nos processos geomorfológicos. Ele definiu planaltos como áreas onde predominam processos de erosão e planícies como regiões de sedimentação. Essa abordagem incorporou a dinâmica dos agentes exógenos na modelagem do relevo, oferecendo uma perspectiva mais processual e menos estática. 

Ab'Saber também introduziu o conceito de domínios morfoclimáticos, relacionando as formas de relevo aos climas e vegetações predominantes. Essa integração entre geomorfologia e climatologia representou um avanço significativo na compreensão do relevo brasileiro, embora ainda não contemplasse todas as variações existentes no território nacional. 


3.3. Classificação de Jurandyr Ross (1990)




Em 1990, Jurandyr Ross apresentou uma nova proposta de classificação do relevo brasileiro, baseada em dados do Projeto RADAM Brasil. Utilizando imagens de radar e sensoriamento remoto, Ross identificou 28 unidades de relevo, agrupadas em três categorias: planaltos, planícies e depressões. Sua abordagem considerou aspectos morfoestruturais, morfoesculturais e morfoclimáticos, oferecendo uma visão mais detalhada e integrada do relevo nacional. 

A introdução das depressões como categoria distinta permitiu uma melhor representação das áreas rebaixadas entre planaltos, anteriormente classificadas de forma inadequada. A proposta de Ross é amplamente aceita e utilizada em materiais didáticos e estudos geográficos, embora algumas críticas apontem para a necessidade de revisões em função de novas tecnologias e dados disponíveis. 


3.4. Sistema Brasileiro de Classificação do Relevo (SBCR)




Na Semana do Meio Ambiente de 2024, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou avanços significativos no Sistema Brasileiro de Classificação de Relevo (SBCR), resultado do segundo Workshop realizado entre fevereiro e março de 2023 na Universidade Federal do Paraná. O principal destaque foi a conceituação das cinco grandes classes de relevo do Brasil: montanhas, planaltos, tabuleiros, superfícies rebaixadas e planícies, que compõem o primeiro nível taxonômico do SBCR. Essa padronização visa estabelecer uma linguagem comum para a representação do relevo nacional, facilitando a comunicação entre pesquisadores, educadores e gestores ambientais.  

O SBCR é fruto de uma colaboração entre o IBGE, o Serviço Geológico do Brasil (SGB/CPRM), a União da Geomorfologia Brasileira (UGB) e diversas instituições acadêmicas. Desde o primeiro workshop em 2019, esses parceiros têm trabalhado na construção de um sistema taxonômico que permita a padronização e estruturação da classificação do relevo brasileiro. Além do primeiro nível, o segundo nível taxonômico, referente às morfoestruturas geológicas, também está em desenvolvimento, ampliando a compreensão das formas de relevo e suas origens.  

Durante o segundo Workshop, foi apresentado o Mapa de Relevo do Brasil correspondente ao primeiro nível taxonômico do SBCR. Este mapa representa uma primeira aproximação na representação cartográfica padronizada do relevo nacional, servindo como ferramenta essencial para estudos ambientais, planejamento territorial e educação geográfica. A implementação do segundo nível taxonômico permitirá uma análise mais detalhada das estruturas geológicas que influenciam as formas de relevo, enriquecendo ainda mais o entendimento do território brasileiro.  

Além dos workshops, o SBCR promove excursões técnicas que visam divulgar seus avanços e aplicar seus conceitos em campo. A segunda excursão técnica, intitulada "Adentrando a Planície Pantaneira", ocorreu em outubro de 2024 e teve como objetivo apresentar aspectos da interpretação e representação cartográfica do relevo da planície pantaneira. Essas atividades práticas são fundamentais para validar e aprimorar os critérios de classificação do SBCR, além de fomentar o engajamento da comunidade científica.  

A publicação dos avanços do SBCR na Semana do Meio Ambiente ressalta a importância do relevo na compreensão e gestão dos ambientes naturais. Como destacou Rosangela Botelho, coordenadora técnica da publicação, "avançar na sua classificação e representação cartográfica é facilitar essas tarefas ao aluno, ao professor, ao pesquisador, ao gestor e ao cidadão, notadamente no desafio de garantir a qualidade e conservação do ambiente". O SBCR, portanto, representa um passo significativo na padronização e compreensão do relevo brasileiro, contribuindo para a educação, pesquisa e políticas públicas voltadas ao meio ambiente.  



4. Conclusão


A trajetória das classificações do relevo brasileiro reflete uma evolução significativa na compreensão e representação das formas terrestres ao longo do tempo. Desde abordagens iniciais baseadas em critérios altimétricos, houve um contínuo aprimoramento metodológico, incorporando avanços tecnológicos e reconhecendo a complexidade morfológica do país. 

Nesse contexto, destaca-se o Sistema Brasileiro de Classificação de Relevo (SBCR), desenvolvido pelo IBGE em parceria com o Serviço Geológico do Brasil (SGB), a União da Geomorfologia Brasileira (UGB) e diversas instituições acadêmicas. O SBCR propõe uma taxonomia estruturada, com o primeiro nível classificando o relevo em cinco grandes classes: montanhas, planaltos, tabuleiros, superfícies rebaixadas e planícies.  

A implementação do SBCR visa estabelecer uma linguagem comum para a representação do relevo nacional, facilitando a comunicação entre pesquisadores, educadores e gestores ambientais. Além disso, o sistema busca integrar diferentes subáreas da Geomorfologia, considerando a multiescalaridade e a diversidade do relevo brasileiro.  

Futuras pesquisas devem considerar a integração de novas tecnologias e dados, bem como a necessidade de revisões periódicas das classificações existentes, para garantir uma representação precisa e atualizada do relevo brasileiro. A continuidade das excursões técnicas e workshops promovidos pelo SBCR contribuirá para o aprimoramento e validação dos critérios de classificação em diferentes contextos regionais. 

Em suma, o SBCR representa um avanço significativo na padronização e compreensão do relevo brasileiro, contribuindo para a educação, pesquisa e políticas públicas voltadas ao meio ambiente. Sua implementação fortalece a capacidade do país em planejar e gerir seu território de forma sustentável e informada. 

Referências


AB'SABER, Aziz Nacib. Domínios morfoclimáticos e fitogeográficos do Brasil: introdução ao conhecimento ecológico do território brasileiro. São Paulo: Instituto de Geografia da USP, 1967.


AZEVEDO, Aroldo de. Geografia do Brasil: estudos geográficos. São Paulo: Nacional, 1949.


BRASIL ESCOLA. Relevo brasileiro: características, classificação. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/brasil/relevo-brasileiro.htm. Acesso em: 29 abr. 2025.


DESCOMPLICA. Classificação do relevo brasileiro em Geografia. Disponível em: https://descomplica.com.br/d/vs/aula/classificacao-do-relevo-brasileiro/. Acesso em: 29 abr. 2025.


INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Na Semana do Meio Ambiente, IBGE divulga os avanços do Sistema Brasileiro de Classificação do Relevo. Agência IBGE Notícias, 6 jun. 2024. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/40303-na-semana-do-meio-ambiente-ibge-divulga-os-avancos-do-sistema-brasileiro-de-classificacao-do-relevo. Acesso em: 1 maio 2025.


INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Relatório técnico: 1º Workshop sobre o Sistema Brasileiro de Classificação de Relevo. Rio de Janeiro: IBGE, 2020. 72 p. ISBN 978-85-240-4617-9. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=2101731. Acesso em: 1 maio 2025.


MUNDO EDUCAÇÃO. Relevo brasileiro: formas, classificação. Disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/relevo-brasileiro.htm. Acesso em: 29 abr. 2025.

 

REVISTA FAPESP. Jurandyr Ross: Os três Brasis. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/jurandyr-ross-os-tres-brasis/. Acesso em: 29 abr. 2025.


ROSS, Jurandyr Luciano Sanches. Geomorfologia do Brasil. São Paulo: EDUSP, 1995.

Eduardo Fernando

Prof. Eduardo Fernando é Mestre em Educação pela Must University, especialista em Metodologias de Ensino Superior e Educação a Distância. Possui formação em Geografia pela Universidade Norte Do Paraná e Pedagogia pela Universidade Católica de Brasília.

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