Núcleo Interno: Sólido... Mas Nem Tanto


Quem diria que o coração da Terra, esse núcleo interno que por tanto tempo foi descrito como uma esfera sólida e imutável, estaria desafiando nossas certezas? A ciência, com sua humildade elegante, vive de revisar o que pensávamos saber. E agora, graças às ondas sísmicas, esse centro geofísico parece ser menos rígido e mais fluido do que imaginávamos.


Entre a Solidez e a Deformação


O núcleo interno da Terra, composto majoritariamente por ferro e níquel, localiza-se a cerca de 5.150 km de profundidade. Sempre foi retratado como sólido devido às altas pressões que ali reinam, suficientes para manter o ferro em estado sólido mesmo em temperaturas superiores a 5.000°C. No entanto, estudos recentes têm mostrado que essa solidez pode não ser tão absoluta assim.

Ondas sísmicas, ao cruzarem essa região, apresentam variações inesperadas em sua velocidade e direção, revelando áreas mais “moles”, por assim dizer, como se a superfície do núcleo interno fosse mais viscosa ou até deformável. Seria esse comportamento o prenúncio de uma estrutura anisotrópica, onde as propriedades variam conforme o ângulo de propagação das ondas?


Afinal... o que isso muda?


Pode parecer uma curiosidade técnica, mas compreender a estrutura do núcleo interno é essencial para desvendar os mistérios do campo magnético terrestre. Esse campo que nos protege contra ventos solares destrutivos depende diretamente do movimento das camadas internas — e, se o núcleo não é tão sólido, seus fluxos de energia e calor podem ser bem mais complexos do que o modelo tradicional nos ensinou.

Imagine tentar entender a rotação de uma engrenagem interna sem saber se ela é feita de aço ou de massa de modelar. Pois é. Há cientistas que se perguntam: será que a superfície viscosa indica uma transição de fases? Ou uma “crosta” interna em constante mutação?


Digressões Geológicas


Durante muito tempo, acreditou-se que o núcleo crescia lentamente à medida que parte do ferro do núcleo externo se solidificava. Mas se sua superfície é deformável, será que essa solidificação é tão homogênea assim? Ou estamos diante de um processo assimétrico, com áreas que crescem mais rapidamente e outras que resistem à transformação?

Essas perguntas ganham peso ao considerarmos o campo magnético reversível da Terra — fenômeno que já ocorreu diversas vezes ao longo da história geológica. A complexidade da estrutura interna pode estar diretamente relacionada à dinâmica dessas inversões.


Um convite à humildade científica


A cada nova descoberta, vemos que a Terra guarda seus segredos de maneira quase poética. Aquilo que parecia imutável se revela flexível. O que era sólido... se mostra viscoso.

Talvez a lição maior aqui seja essa: a ciência não busca verdades absolutas, mas sim versões cada vez mais refinadas da realidade. E essa realidade agora aponta para um núcleo interno que pulsa, se adapta e — por que não? — nos surpreende.


Referências Bibliográficas


ALDRIDGE, David F. _Seismic wave behavior in Earth's inner core: A review_. Journal of Geophysical Research, v. 126, n. 5, p. 1–17, 2021.

GARAI, József. _Anisotropy and deformation of the inner core of Earth_. Earth and Planetary Science Letters, v. 482, p. 23–31, 2018.

OZAWA, Hiroshi et al. _Experimental constraints on the viscosity of the inner core surface_. Nature Geoscience, v. 14, n. 3, p. 195–200, 2021.

TROMP, Jeroen; DURNIAK, Colin. _Advances in core seismology_. Annual Review of Earth and Planetary Sciences, v. 47, p. 89–109, 2020.


Questões 


1. O núcleo interno da Terra é composto principalmente por:

   - A) Silício e magnésio  

   - B) Níquel e ferro  

   - C) Carbono e enxofre  

   - D) Oxigênio e hidrogênio  

   - E) Potássio e cálcio  

   **Gabarito: B**


2. Qual fenômeno é fundamentalmente influenciado pela estrutura do núcleo interno?

   - A) Formação de montanhas  

   - B) Correntes marítimas  

   - C) Campo magnético terrestre  

   - D) Ciclos de evaporação  

   - E) Rotação da Lua  

   **Gabarito: C**


3. A deformabilidade da superfície do núcleo interno é sugerida por:

   - A) Estudos vulcanológicos  

   - B) Análises climáticas  

   - C) Variações de temperatura na crosta  

   - D) Comportamento das ondas sísmicas  

   - E) Movimentos tectônicos  

   **Gabarito: D**


4. Qual característica define uma estrutura anisotrópica?

   - A) Uniformidade de massa  

   - B) Alterações temporais constantes  

   - C) Propriedades que variam com a direção  

   - D) Solidificação homogênea  

   - E) Baixa densidade molecular  

   **Gabarito: C**


5. As ondas sísmicas revelam que o núcleo interno é:

   - A) Totalmente líquido  

   - B) Rígido e inerte  

   - C) Flexível e anisotrópico  

   - D) Sem qualquer movimento  

   - E) Completamente homogêneo  

   **Gabarito: C**


6. A viscosidade na superfície do núcleo interno indica:

   - A) Rejeição de ondas sísmicas  

   - B) Ausência de elementos metálicos  

   - C) Presença de uma camada deformável  

   - D) Falta de pressão interna  

   - E) Estagnação térmica  

   **Gabarito: C**


7. O estudo do núcleo interno contribui diretamente para entender:

   - A) Erosão de solos  

   - B) Poluição atmosférica  

   - C) Origem das espécies  

   - D) Formação de oceanos  

   - E) Dinâmica do campo magnético  

   **Gabarito: E**


8. O núcleo cresce à medida que:

   - A) Gás carbônico é acumulado  

   - B) Parte do núcleo externo se solidifica  

   - C) A crosta terrestre se desgasta  

   - D) O manto esfria rapidamente  

   - E) Ocorrem inversões térmicas  

   **Gabarito: B**


9. O comportamento das ondas sísmicas varia conforme:

   - A) A latitude terrestre  

   - B) A intensidade dos ventos solares  

   - C) O ângulo de propagação  

   - D) O número de terremotos  

   - E) A composição da atmosfera  

   **Gabarito: C**


10. Segundo a ciência contemporânea, o núcleo interno:

   - A) É perfeitamente sólido  

 -B) Apresenta superfície fluida e deformável  

   - C) Não interfere no campo magnético  

   - D) Está em processo de evaporação  

   - E) Tem composição desconhecida  

   **Gabarito: B**

Eduardo Fernando

Prof. Eduardo Fernando é Mestre em Educação pela Must University, especialista em Metodologias de Ensino Superior e Educação a Distância. Possui formação em Geografia pela Universidade Norte Do Paraná e Pedagogia pela Universidade Católica de Brasília.

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