A Unificação da Itália: Quando Sonhar com um País Deixou de Ser Utopia



Já imaginou viver num lugar que fala a mesma língua que você, compartilha tradições parecidas, mas onde cada cidade tem sua própria bandeira, seu próprio exército... até sua própria moeda? Pois é, foi mais ou menos assim que a Itália viveu por séculos. Um mosaico de reinos, ducados, estados papais e zonas sob domínio estrangeiro — tudo espremido em uma península que, a despeito de tanta divisão, pulsava um desejo comum: ser uma só.

Mas unificar a Itália não foi como montar um quebra-cabeça com peças bonitinhas e prontas pra se encaixar. Foi mais como costurar uma colcha de retalhos rasgada, com agulha cega e linha fina. Tinha paixão, tinha sangue, tinha estratégia. E, claro, tinha muita gente metendo a colher no caldeirão.

A Itália Antes de Ser Itália

Antes do século XIX, a palavra “Itália” era quase poética. Existia, sim, mas no imaginário. A península era controlada em partes por potências como a Áustria, enquanto os Estados Papais respondiam diretamente ao Vaticano. Tinha também o Reino das Duas Sicílias lá no sul, a Sardenha ao norte, entre outros. Era como se cada pedacinho desse território tivesse medo de perder sua identidade... ou seu poder.

E aí, entra uma pergunta essencial: o que leva pessoas a lutar por uma nação que ainda não existe?

Corações e Mentes: os Homens por Trás do Sonho

A resposta começa em ideias. Ideias revolucionárias, que vinham sopradas pelos ventos da Revolução Francesa e do Iluminismo. Homens como Giuseppe Mazzini, com sua "Jovem Itália", começaram a semear o ideal de uma nação unificada. Mazzini era daqueles sonhadores que acreditam na juventude como força de mudança. Já viu esse filme, né?

Depois veio Conde de Cavour, um político mais calculista, mais racional. Ele era o primeiro-ministro do Reino da Sardenha e sabia jogar o jogo da diplomacia como poucos. Fez alianças, negociou com Napoleão III e, aos poucos, foi garantindo os primeiros passos rumo à unificação.

E como esquecer de Giuseppe Garibaldi? Um verdadeiro personagem de romance épico: corajoso, impulsivo, com sua tropa de "Camisas Vermelhas" marchando pelo sul e conquistando corações e territórios. Garibaldi não tinha medo. Talvez tivesse até sede de lutas, mas por uma causa que considerava justa.

Etapas que Construíram um País

Esse processo não foi de uma hora pra outra. Em 1859, o Reino da Sardenha anexou a Lombardia após derrotar a Áustria. Em 1860, Garibaldi liderou sua expedição pelos territórios do sul. Em 1861, finalmente, o Reino da Itália foi proclamado, com Vítor Emanuel II como rei. Mas Roma? Ah, Roma ainda era dos Papas. Só foi incorporada em 1870, no embalo da Guerra Franco-Prussiana.

Curioso, né? A capital do sonho italiano foi uma das últimas a ser conquistada.

Nem Tudo Foram Flores

Unificar um território não significa, automaticamente, unificar uma nação. O sul, pobre e agrário, passou a ser tratado com certo desprezo pelo norte industrializado. O Estado centralizado trouxe modernização, mas também desigualdade e repressão de culturas locais. Um dilema que ecoa até hoje.

Ah, e a Igreja Católica? Perdeu poder político com a unificação e ficou ressentida por anos. Só em 1929, com o Tratado de Latrão, é que o Vaticano foi oficialmente reconhecido como Estado independente, encerrando esse impasse secular.

Por Que Isso Ainda Importa?

Falar da unificação italiana não é apenas rever datas e nomes. É olhar para os conflitos entre identidade e poder. É pensar sobre o que une um povo. É reconhecer que toda nação é, no fundo, uma construção — feita de narrativas, símbolos, lutas e contradições.

E, claro, é lembrar que o mundo como o conhecemos hoje foi moldado por gente que ousou sonhar. Mesmo quando esse sonho parecia impossível.


Referências Bibliográficas

DEL PRIORE, Mary; VENÂNCIO, Renato Pinto. História da Gente Brasileira. São Paulo: LeYa, 2015.
FERRO, Marc. A História das Histórias. São Paulo: Editora UNESP, 2006.
HOBSBAWM, Eric. A Era das Revoluções: 1789-1848. São Paulo: Paz e Terra, 2019.
LEFEBVRE, Georges. A Revolução Francesa. São Paulo: Ática, 2003.
MAZZINI, Giuseppe. O Dever do Homem. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
VENTURI, Franco. O Risorgimento. Lisboa: Edições 70, 1985.


Questões 

1. Qual dos personagens abaixo liderou a unificação do sul da Itália com os “Camisas Vermelhas”?
A) Vítor Emanuel II
B) Mazzini
C) Garibaldi
D) Cavour
E) Napoleão III

2. A unificação italiana se completou com a anexação de:
A) Veneza, em 1866
B) Sicília, em 1860
C) Lombardia, em 1859
D) Roma, em 1870
E) Toscana, em 1858

3. O movimento "Jovem Itália" era caracterizado por:
A) Propostas monarquistas e centralizadoras
B) Idealismo republicano e nacionalista
C) Alianças militares com a Áustria
D) Apoio à manutenção do status quo
E) Defesa do poder papal

4. O Reino da Sardenha, liderado por Cavour, foi essencial na unificação italiana por:
A) Apoiar o Império Austro-Húngaro
B) Apoiar os Estados Papais
C) Liderar ações diplomáticas e militares estratégicas
D) Impedir o avanço de Garibaldi
E) Neutralizar Mazzini

5. A atuação de Napoleão III foi relevante porque:
A) Declarou guerra à Itália
B) Tentou anexar Roma
C) Ajudou o Reino da Sardenha a derrotar a Áustria
D) Unificou a França e a Itália
E) Apaziguou a Igreja Católica

6. Qual o maior obstáculo político à unificação de Roma?
A) A presença do exército britânico
B) O apoio francês ao Papa
C) A oposição de Garibaldi
D) A monarquia espanhola
E) A resistência da população local

7. O Tratado de Latrão (1929) solucionou qual impasse?
A) A guerra entre Itália e França
B) A unificação do sul com o norte
C) A independência do Vaticano
D) A anexação da Sicília
E) O fim da monarquia

8. A principal diferença entre Mazzini e Cavour era:
A) A religião
B) A origem geográfica
C) A visão política – idealismo x pragmatismo
D) O uso de violência
E) A relação com Garibaldi

9. O termo “Risorgimento” refere-se:
A) À criação do exército italiano
B) Ao movimento de ressurgimento nacional italiano
C) À derrota da Áustria
D) Ao fim do poder papal
E) À proclamação do Império

10. A unificação da Itália contribuiu para:
A) O fim do nacionalismo na Europa
B) A consolidação do poder papal
C) O surgimento de novas potências europeias
D) A estabilidade total da península
E) O aumento das tensões sociais internas


Gabarito Comentado

  1. C – Garibaldi foi o responsável pela campanha do sul com os Camisas Vermelhas.
  2. D – A unificação se completou com a anexação de Roma, em 1870.
  3. B – A Jovem Itália, de Mazzini, defendia o republicanismo e a unificação.
  4. C – Cavour usou diplomacia e estratégia militar para liderar a unificação pelo norte.
  5. C – Napoleão III auxiliou o Reino da Sardenha contra a Áustria em 1859.
  6. B – A França protegia o Papa, dificultando a anexação de Roma.
  7. C – O Tratado de Latrão reconheceu o Vaticano como Estado independente.
  8. C – Mazzini era idealista e republicano; Cavour era pragmático e monarquista.
  9. B – Risorgimento significa “ressurgimento” e está ligado ao renascimento nacional.
  10. E – Apesar da unificação, surgiram tensões entre o norte e o sul da Itália.


Eduardo Fernando

Prof. Eduardo Fernando é Mestre em Educação pela Must University, especialista em Metodologias de Ensino Superior e Educação a Distância. Possui formação em Geografia pela Universidade Norte Do Paraná e Pedagogia pela Universidade Católica de Brasília.

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